Os <i>ENVC</i> têm que trabalhar
O comício do PCP em Viana do Castelo foi mais uma etapa da luta que se trava em defesa dos Estaleiros Navais e que teve na manifestação da véspera mais uma forte expressão. A luta continua no sábado, no Terreiro do Paço.
A privatização dos ENVC está prevista no pacto de agressão
Quando, no palco do comício do PCP, Jerónimo de Sousa saudou os trabalhadores dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo que, «com o seu exemplo de unidade e luta, defenderam ontem, têm defendido nos dias de hoje e vão continuar a defender os Estaleiros Navais, empresa pública», fê-lo perante muitos dos que, na véspera, participaram em mais uma grande manifestação que trouxe às ruas de Viana do Castelo centenas de operários e trabalhadores dos Estaleiros Navais e seus familiares, para além de muitos ex-trabalhadores, comerciantes e habitantes do concelho, conscientes da importância decisiva daquela grande empresa para a economia local e regional. «Temos soluções», lia-se em vários cartazes empunhados pelos manifestantes, que exigiam do Governo a realização dos investimentos necessários ao reinício da laboração na empresa – precisamente o que, nesse mesmo dia, os deputados da maioria rejeitaram no Parlamento (ver página 5).
No final da manifestação, na Praça da República, o secretário-geral da CGTP-IN exigiu que o Governo disponibilizasse os cinco milhões de euros necessários, sugerindo mesmo que saíssem da linha de crédito de 1500 milhões de euros para apoio às pequenas e médias empresas, recentemente anunciada pelo Governo, com «pompa e circunstância». Para Arménio Carlos, se o Governo não adiantar essa verba é porque «não está interessado em manter empregos mas em os destruir. E isso seria um crime contra a região».
O secretário-geral da Intersindical criticou ainda Cavaco Silva por não ter ainda recebido os representantes dos trabalhadores da empresa, que há muito solicitaram esse encontro. «Fala muito, mas tem que começar a fazer mais», afirmou o sindicalista.
No final da manifestação, foi aprovada por unanimidade uma resolução a exigir que o Governo desbloqueie de imediato os meios necessários para que os ENVC comecem a construir os navios para a Venezuela. O contrato com o país da América do Sul para a construção dos dois navios asfalteiros, no valor de 128 milhões de euros, corre agora o sério risco de ser cancelado.
Os manifestantes passaram ainda junto à delegação da Autoridade para as Condições de Trabalho, onde deixaram uma queixa contra o corte decidido de forma unilateral pela administração nos seguros de saúde da empresa, em vigor há mais de 30 anos. Uma delegação do PCP, constituída pelos membros do Comité Central Filipe Vintém e Ilda Figueiredo, marcou presença solidária na manifestação.
Uma luta para continuar
Há muito que os trabalhadores dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo são conhecidos pela sua combatividade e pela sua constante e generosa participação nas acções de luta do movimento sindical unitário – tanto a nível da empresa como a nível sectorial e nacional. Mas a sua luta intensificou-se em Junho do ano passado, quando foi apresentado um plano de reestruturação da empresa que incluía o despedimento de 380 trabalhadores, cerca de metade do total. Também por esta altura, os Estaleiros foram colocados na lista de empresas a privatizar, incluída no «acordo» assinado com a troika.
A reacção foi imediata e, numa clara e inequívoca expressão de unidade, os trabalhadores rejeitaram em plenário os despedimentos e exigiram a viabilização dos Estaleiros e a sua manutenção como empresa pública.
De então para cá, a luta em defesa dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo não mais parou, respondendo os trabalhadores a par e passo às novas ofensivas contra a empresa. Como se anunciou na manifestação de dia 3 e no comício de dia 4, esta luta continua já depois de amanhã, na grande manifestação convocada pela CGTP-IN para o Terreiro do Paço, em Lisboa.